GARBOSA FM
Crise nos Correios preocupa trabalhadores e reacende temor de privatização

Crise nos Correios preocupa trabalhadores e reacende temor de privatização

04/11/2025 15:24
Por:
José Roberto
José Roberto

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos vive um dos momentos mais delicados de sua história recente. Com um prejuízo acumulado de R$ 4,3 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025, a estatal enfrenta queda nas receitas, aumento expressivo nas despesas e, principalmente, o temor de seus trabalhadores quanto ao futuro da instituição.

Os números chamam a atenção: o resultado negativo é três vezes maior que o registrado no mesmo período de 2024. As receitas de vendas e serviços caíram mais de 11%, enquanto as despesas administrativas subiram 74% e as financeiras cresceram 117%. Segundo o presidente da empresa, Emmanuel Rondon, o Correios “não se adaptou às mudanças do mercado”, e o desafio agora é equilibrar as contas e modernizar a operação.

Para isso, foi apresentado, no dia 15 de outubro, um plano de reestruturação dividido em três eixos principais. O primeiro prevê redução de despesas, com a abertura de um programa de demissões voluntárias e renegociação de contratos com fornecedores. O segundo busca diversificar as fontes de receita, apostando em novos modelos de negócios e na venda de imóveis. Já o terceiro eixo trata da recuperação da saúde financeira, por meio de um empréstimo bilionário de R$ 20 bilhões, garantido pelo Tesouro Nacional e negociado com bancos públicos e privados.

Diante desse cenário, o Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de Juiz de Fora (SINTECT JF) foi convidado pela Garbosa FM para discutir a crise e seus impactos diretos sobre os funcionários. Participaram da entrevista Conceição Alves da Silva (presidente), Alan Marques da Cruz (diretor de Finanças), Alexsander Machado (diretor de Saúde) e Reginaldo de Freitas Souza (diretor de Imprensa e Divulgação)  .

A presidente do sindicato, Conceição Alves da Silva, foi categórica ao afirmar que a atual crise não começou agora.

“Essa crise vem desde o projeto de privatização, há mais de cinco anos. Antes disso, já havia retirada de dividendos dos Correios por parte de governos, sem devolução, e uma falta de investimento crônica. Isso resultou nesse quadro que estamos vivendo hoje, deixando trabalhadores e a população apreensivos.”

Segundo ela, o sucateamento dos Correios é consequência direta da ausência de investimento e de uma política de desvalorização da empresa. Atualmente, o sindicato representa cerca de mil associados na região de Juiz de Fora e São João Nepomuceno.

O diretor de Finanças, Alan Marques da Cruz, destacou que a empresa não realiza concursos públicos desde 2011, o que representa 14 anos sem renovação efetiva de pessoal.

“Estamos vivendo um processo de sucateamento. Desde 2016, não há investimento em veículos, tecnologia nem pessoas. O último concurso, anunciado recentemente, ainda não teve efetivação. Sem investimento, qualquer negócio entra em colapso.”

Alan lembrou ainda que, durante a pandemia, os Correios lucraram devido ao crescimento do e-commerce, mas que os valores devidos em precatórios não foram pagos, gerando um passivo que agora pesa sobre as contas da empresa.

“Na época, cortaram um terço do nosso salário com a justificativa de equilibrar as contas. O lucro veio momentaneamente, mas sem investimento, a conta chegou. E é isso que estamos vendo agora.”

O diretor de Imprensa e Divulgação, Reginaldo de Freitas Souza, reforçou o papel social da empresa, principalmente em regiões afastadas do país.

“Os Correios são a única presença do Estado em muitas comunidades do Norte e Nordeste. Fazemos entregas em lugares onde nenhuma empresa privada quer atuar. Isso é dever social e compromisso com a população.”

Para Reginaldo, a reestruturação atual pode servir de porta de entrada para uma nova tentativa de privatização  .

“Se essa reestruturação não for feita com diálogo e sem transparência, abre-se o caminho para a privatização. E o resultado será fechamento de agências e demissões. Nenhum empresário vai colocar caminhão, balsa ou avião para entregar correspondência em áreas que não dão lucro.”

Ele lembra ainda que os Correios já foram a maior empresa empregadora do país  , com presença em todos os municípios brasileiros, um papel que vai muito além do lucro — trata-se de integração nacional e cidadania  .

O diretor de Saúde do sindicato, Alexsander Machado  , chamou atenção para o impacto emocional e físico sobre os trabalhadores. “A incerteza e o medo do desemprego adoecem o trabalhador. Estamos falando de pessoas que se desdobram para atender regiões enormes, enfrentam sobrecarga e, ainda assim, vivem sob ameaça constante de cortes. É uma questão de saúde pública.”

Todos os representantes do SINTECT JF destacaram a importância do diálogo entre a direção da empresa e as entidades sindicais. “Nós queremos contribuir para a recuperação dos Correios, mas é preciso respeitar o trabalhador. Não dá para reestruturar uma empresa dessa grandeza apenas com cortes. É preciso investir, valorizar o funcionário e lembrar do papel social que a empresa cumpre há mais de 350 anos”, disse Conceição Alves.

Os Correios, fundado em 1663, são uma das instituições mais antigas do Brasil. Com presença em todos os 5.568 municípios, a empresa é responsável por conectar pessoas, empresas e órgãos públicos em regiões onde a iniciativa privada não chega.

Entretanto, a soma de anos de falta de investimento, gestão política e pressões privatistas deixou marcas profundas. Hoje, trabalhadores sobrecarregados  , serviços defasados e insegurança institucional são sintomas de uma empresa que precisa urgentemente de um plano de recuperação estruturado, transparente e participativo. “Os Correios não são apenas uma empresa. São parte da história e da identidade do Brasil. A gente espera que o país perceba isso antes que seja tarde”, concluiu Reginaldo dos Correios.

 

Entrevistados: 

  Conceição Alves da Silva – Presidente do SINTECT JF

  Alan Marques da Cruz – Diretor de Finanças

  Alexsander Machado – Diretor de Saúde

  Reginaldo de Freitas Souza – Diretor de Imprensa e Divulgação

  Programa Radar Entrevista – Garbosa FM 

  Apresentação: Marcelo

  Data: 4 de novembro de 2025